quarta-feira, 31 de março de 2010

SPARKY



Para Sparky, o colégio era uma coisa quase impossível. Ele foi reprovado em todas as matérias na sétima série. Foi reprovado em Física no Ensino Médio, com nota zero. Sparky também foi reprovado em Latim, Álgebra e em Inglês. Não foi muito melhor nos esportes. Embora tenha conseguido entrar para o time de golfe da escola, perdeu o único jogo importante da temporada. Havia um jogo de consolação e esse ele também perdeu.
Durante toda a juventude Sparky teve problemas de sociabilidade. Os outros não chegavam a não gostar dele, pois ninguém lhe dava importância suficiente para isso. Ele ficava surpreso se algum colega lhe dava um bom-dia fora do horário de aula. Não se sabe ao certo como foi sua vida sentimental. Sparky nunca convidou uma garota para sair no Ensino Médio. Tinha medo de ser rejeitado.
Sparky era um perdedor. Ele, seus colegas... todo mundo sabia. Então ele vivia com isso. Sparky tinha decidido cedo na vida, que, se fosse para as coisas darem certo, elas dariam. Do contrário, ele se contentaria com o que parecia ser sua inevitável mediocridade.
No entanto, uma coisa era importante para Sparky – desenhar. Ele tinha orgulho de seus desenhos. É claro que ninguém mais gostava deles. No último ano do Ensino Médio, ele ofereceu alguns quadrinhos para os organizadores do livro de formatura da classe. Os quadrinhos foram rejeitados. Apesar dessa rejeição específica, Sparky estava tão convencido de seu talento que decidiu se tornar um artista profissional.
Depois de completar o Ensino Médio, escreveu uma carta para os estúdios Disney. Pediram-lhe que mandasse algumas amostras de seu trabalho e sugeriram o tema para uma série de quadrinhos. Sparky desenhou os quadrinhos propostos. Passou muito tempo trabalhando neles e em todos os outros desenhos que enviou para avaliação. Finalmente, recebeu uma resposta dos estúdios Disney. Havia sido rejeitado mais uma vez. Outra derrota para o perdedor.
Sparky decidiu, então, escrever sua própria autobiografia em quadrinhos. Descreveu a si mesmo quando criança – um garoto perdedor e que nunca conseguia se sobressair. O personagem dos quadrinhos logo se tornaria famoso no mundo inteiro. Pois Sparky, o menino que tinha tão pouco sucesso no colégio e cujo trabalho fora rejeitado vezes sem conta, era Charles Schulz. Ele criou a tirinha Peanuts com o cachorro Snoopy e o pequeno personagem Charlie Brown, cuja pipa nunca voava e que não conseguia chutar uma bola de futebol.     


                                                                                                                         

terça-feira, 30 de março de 2010

Datas Vestibulares


Fuvest, Unesp e Unicamp divulgam datas do vestibular 2011

Uol Vestibular
A Fuvest, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) divulgaram nesta terça-feira (30) as datas do vestibular 2011. Confira:


Fuvest

O manual do vestibular 2011 estará disponível na web para consulta e impressão a partir do dia 2 de agosto. As inscrições vão de 27 de agosto a 10 de setembro, também pela internet.

A Fuvest seleciona alunos para a USP (Universidade de São Paulo), para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco e para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa.

As provas específicas serão realizadas de 10 a 15 de outubro. A primeira fase será no dia 28 de novembro e a 2ª fase ocorre nos dias 9, 10 e 11 de janeiro.

Unicamp

A Unicamp recebe inscrições para o seu processo seletivo entre 23 de agosto e 8 de outubro, por meio de formulário que estará disponível na página da Comvest, que organiza vestibular.

A primeira fase vai acontecer no dia 21 de novembro e o resultado com a lista de convocados para a segunda fase será divulgado em 20 de dezembro.

A segunda fase será realizada nos dias 16, 17 e 18 de janeiro. Já as provas de aptidão serão aplicadas em Campinas, de 24 a 27 de janeiro. A lista de convocados em primeira chamada será divulgada em 7 de fevereiro.

Unesp

A prova da primeira fase da Unesp será no dia 14 de novembro. A segunda fase será em 19 e 20 de dezembro. A divulgação da convocação para matrícula acontecerá em 3 de fevereiro.

Veja outras informações no site da Vunesp.

domingo, 28 de março de 2010

Queria ter força para soprar lá fora meu grito cantado
um sopro contínuo das vísceras que vibre na pele do mundo o canto do ar

Ver decolar as cores do espaço
e soltar para o universo meu choro sem cor.

Do sopro, tornar vento
e voar como música, pássaro e nuvem,
 sem chão.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O Último Dia

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

Corria prum shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

Andava pelado na chuva?
Corria no meio da rua?
Entrava de roupa no mar?
Trepava sem camisinha?

Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria?

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

encontrar-se

para todo lado
um olhar que procura
uma solução para aquilo que pensa
aquilo que expressa, aquilo que quer
o que vê, o que sente, o que falam as
suas formas, as cores, as palavras das coisas,
dos outros olhos

fitam o mundo sem palavra
o mundo que fala sem mover os lábios
movimentam as decisões do traço
o gesto dança pelo rítmo confuso
que está nos olhos de quem encontra
uma linha, um sentido, nem que seja um ponto,
um risco, trêmulo.
encontra, sempre, se dispõe-se a tanto
e quanto pode, quanto quer
mergulhar naquilo que não sabe se acaba,
se leva, e se compreende seu mundo.

Seu mundo é sem limites
explorar o espaço que pra nós é vazio
talvez de entendimento
talvez de formas
talvez de sentidos
mas, ainda, o medo resiste
você tem o poder de criar esse mundo
arriscar ser o que não é,
fazer o que não existe
encontrar-se.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Eu, meu papagaio e o chacal do vizinho...


Eu tenho uma casa amarela com pintinhas pretas cujo tamanho varia entre o tamanho de uma bola de gude e o de uma bola de demolição.
Por isso, comprei um papagaio amarelo com bolinhas pretas. Porque eu sou brega e quero combinar o meu papagaio com a minha casinha cafona.


Não gosto de falar muito sobre mim e, por isso, quando alguém me visita, eu ponho o cidadão para falar com o papagaio, que repete os sons que ele ouve na casa.


A maioria das pessoas se dá por satisfeita.


Um dia, entretanto, fui visitado pelo chacal do vizinho. Coloquei-o para falar com o papagaio, como era habitual. Ele me olhou feio e perguntou o porquê de eu não conversar diretamente com ele.
Eu respondi: “Ora, então desvie do papagaio e venha até a mesa conversar comigo.”
Todavia o chacal foi incapaz de desviar do papagaio. Ficava só reclamando que a ave o atrapalhava, que não conseguia seguir em frente porque ela bloqueava o caminho.


Pensei com os meus botões: “Se um chacal, com dentes afiados, não segue o seu caminho porque está sendo impedido por um simples papagaio inútil então este chacal é mais burro e mais inútil que o meu papagaio feio.”


Diante da verdade, tomei um tijolo nas mãos e o atirei na cabeça do quadrúpede horroroso arrancando um gemido final de dor.


Ele morreu com língua reclamona e cérebro inútil à mostra.


Moral: De que vale reclamar e não matar a porcaria do papagaio?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre tamanduás voadores...

A verdade é um rugido. Mas a verdade verdadeira não existe. Só é verdade aquilo que se vê, porque só o que se vê pode se provar. Eu só consigo provar que um lápis existe porque eu o vejo.
Isto é uma mentira. Ouviram? UMA MENTIRA! Se vocês acreditarem nisso, estarão jogando Aristóteles pela janela!


Nem sempre as pessoas dizem o que pensam, ou o que julgam como sendo verdadeiro. Mas, se elas dizem aquilo que elas VÊEM, apesar de não julgarem aquilo verdadeiro, o que o torna falso?

Você pode enxergar um tamanduá voador. Ele poderia ter asas pequenininhas de borboleta. Asinhas azuis. Mas, o que torna verdadeira ou falsa sua visão? É a lógica.

Um tamanduá voador não é lógico neste planeta. Ainda mais com asas azuis de borboleta. É patético pensar nisso – apesar de engraçado – e seriamente perigoso VER isso. Eu diria que, se alguém enxergasse um bicho assim, deveria ser internado num manicômio (a não ser que esteja sob efeito de uma droga pesadíssima).
Mas o que torna algo lógico ou não? Como definir a lógica de algo?
A lógica é um processo do pensamento. Um processo entediante do pensamento. Tão criativo quanto purê de batatas. Mas, ainda assim, ninguém joga um purê de batatas no lixo.

Se eu vejo um mundo infernalmente maldoso, catastrofista e doentio, o que há de ilógico nisso? Eu mesmo posso não acreditar no que vejo, porque desconfio da minha visão. Mas, se ninguém é capaz de provar que não há lógica no que eu vejo... então, certamente, o que eu vejo é verdadeiro! Não importa o que cremos. O que importa é o que conseguimos assimilar logicamente.

Se ninguém for capaz de te provar que tamanduás não voam com asas de borboletinha; se não forem capazes de demonstrar a falta de lógica nesse pensamento; então ele estará cada vez mais próximo de assumir um caráter lógico.

Mas isso não tem nada a ver com tamanduás. Isso tem a ver com crenças e visões. Se você acredita num mundo melhor, deve provar que ele pode existir. Se você não acredita, deve provar que ele não pode existir.

Se você enxerga algo que não quer ver... deve provar que ele é falso.

Isso é o que a maioria não consegue entender, e é aqui que está o pulo-do-gato!

Não bastam os discursos românticos, apaixonados e belos. PROVEM QUE ELES SÃO LÓGICOS, ORA!

Até mesmo na loucura do caos há uma lógica.

Ninguém sabe o que eu penso. Somente o que eu vejo.
E, por mais que eu queira acreditar que esteja tudo errado.
Ninguém é capaz de provar o contrário.
Assim, essa falácia formal, a cada dia caminha na direção de se tornar uma verdade.

Afinal, só a verdade é incontestável.
E, portanto, só os sonhos desmoronam.


Boa noite.

terça-feira, 23 de março de 2010

um abismo: o olhar
a profundidade de um corpo
se retirando do que é sólido

a superfície desse poço que nunca se alcança

a queda latente
a luta contra ela
a resistência perseverante

na verdade, tudo pode ser um engano melindroso

passado da queima das vistas
do medo nocivo, da desproteção eloqüente
e da confusão indecifrável

que se resgata com o feixe de luz longínqua
que se abre com desfecho da aventura desmedida

segunda-feira, 22 de março de 2010

a importância do ócio criador

Que bom que deu tudo certo na minha primeira postagem... então já vou para a segunda!
Vou colocar agora uma coisa que eu escrevi num momento de revolta contra a rotina.



Conforme a Mitologia grega, Sísifo era um mortal muito astuto, que não suportava a idéia de que um dia deveria morrer.
Acontece que certa vez, chegado o dia de sua morte, o grande Zeus envia à Terra Tânatos, o deus da morte, para buscar Sísifo e levá-lo ao mundo subterrâneo. Porém este, esperto como era, ao encontrar com o enviado de Zeus, elogiou sua beleza e pediu para deixá-lo enfeitar seu pescoço com um colar. Tânatos, lisonjeando, aceitou o presente, mas acabou sendo preso, pois o colar era, na verdade, uma coleira.
Assim Sísifo conseguiu o que mais almejava na vida, driblar seu destino e livrar-se da morte. Mas não demorou muito para arranjar novas encrencas, mas agora com Hades, que por ser deus da guerra precisava da morte para consumar suas batalhas. Como Tânatos estava aprisionado, passou-se um tempo sem que ninguém morresse. Então Hades foi atrás de saber o que estava acontecendo com o deus da morte, e ao descobrir os feitos de Sísifo, mandou-o imediatamente ao encontro de Zeus, para que recebesse uma punição.
Sísifo foi condenado a rolar eternamente uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível.
Esse trabalho rotineiro e cansativo manteve Sísifo na Terra por toda a eternidade. Mas seria mesmo essa a vida eterna que um dia ele sonhara? Essa é uma questão que norteia muitos homens hoje em dia, e ela está muito relacionada à negação da morte, como acontece também na história de Sísifo. Eu digo isso pois existem estudos que tratam do enterro dos mortos como a primeira manifestação de consciência do ser humano. Foi quando o homem passou a entender que existia um tempo entre o nascimento e a morte. Esse tempo é o que chamamos de vida. Acontece que desde então, o homem passou a cada vez mais querer driblar a morte. Inventando mil coisas para preencher a vida.
Assim como Sísifo, muitas vezes nós temos a mania de nos acharmos mais poderosos do que realmente somos. Sísifo quis enfrentar a morte, e nós também estamos tentando. Fizemos da nossa sociedade um sistema baseado na competição. Quanto mais pessoas você tiver abaixo de você, mais dinheiro você terá para alcançar aquilo que você nunca viu de perto, mas que acha que seja a verdadeira felicidade.
As pessoas se vêem então, na obrigação de ocupar um lugar de prestígio na sociedade. E muitas vezes realizam trabalhos que dão dinheiro, mas que de nada valem.
No meio dessa corrida insana do capital, as pessoas perdem o seu tempo. Por causa de tanto trabalho e de tanta pressa em trabalhar, ninguém mais tem tempo para pensar na real felicidade, que muitas vezes não ocupa sequer um minuto de nossas vidas.
Nosso pequeno tempo livre está em algum lugar. E por menor que ele seja, nós precisamos procurar nele algo que nos faça bem de verdade. Não acho que a melhor coisa a fazer seja chegar sexta feira em casa cansada de tanto trabalhar, encher a cara para relaxar e depois no sábado acordar com uma tremenda dor de cabeça, passar o dia todo bebendo água para poder pegar uma balada à noite, para depois finalmente, no domingo, sentar a bunda no sofá e assistir ao Faustão, ao big brother, ao fantástico e dormir babando ali mesmo, até o despertador tocar e a gente voltar pra nossa tão odiada rotina.
Eu sei que é difícil, ou quase impossível nadar contra a corrente. Não acho que ninguém deva parar de trabalhar. Eu só acho que devíamos ter menos medo. Medo de morrer, medo de se arriscar, medo de se conhecer. Temos que achar na nossa pilha de deveres, um momento para o ócio. E o mais importante é que seja um ócio criador, que nos faça parar de sermos tão ambiciosos quanto Sísifo. Devemos parar de exigir tanto da vida, e deixar que ela exija de nós a própria vida.

Minha primeira postagem, espero que dê certo

Na última aula de filosofia, quando o Marlon falou sobre os sofistas, surgiu uma discução sobre verdade absoluta e verdade relativa.
Isso ficou muito na minha cabeça.. então eu escrevi uma coisa...
Eu tentei enxugar ao máximo as minhas idéias, e mesmo assim o texto ficou um tanto quanto comprido. Mas eu fiquei com vontade de compartilhar essas idéias, então eu vou postar mesmo assim... leia quem tiver saco! obrigada!

Falar sobre uma verdade absoluta, hoje em dia, é uma tarefa um tanto quanto intimidadora, pelo seguinte motivo: com uma característica cada vez mais individualista, as pessoas se dividem em opiniões muito divergentes e vivem a discutir e a discordar do pensamento alheio.

Quando eu digo que as pessoas estão adquirindo cada vez mais uma característica individualista, estou querendo dizer que isso é um processo, e que antes, em tempos muito remotos, essa individualidade já chegou a nem existir entre os seres humanos. Isso aconteceu, quando nós, assim como os outros animais, tínhamos uma “alma grupal”.

Esse conceito de “alma grupal” é do pensador Rudolf Steiner, antropólogo que viveu entre 1861 e 1925. Para mim, Steiner foi mais do que isso. Ele foi um cientista e terapeuta do corpo, da alma e do espírito, que explicou muitos dos conflitos e desarmonias humanas através, dentre outros, desse seu conceito de “alma grupal”.

Bem resumidamente podemos dizer que para Steiner os animais não possuem um eu, tal como o homem o possui. Esses eus humanos são de tal natureza que cada homem tem o seu eu. No caso dos animais é diferente: eles têm um eu grupal, uma alma grupal, o que significa que um grupo de animais da mesma espécie tem um eu comum. Esse eu comum dos animais está no mundo astral, ou seja, existe uma entidade superior, um poder central, que rege os animais de certa espécie.

Para entendermos melhor esse poder central, podemos usar a imagem um homem que está atrás de uma parede com dez orifícios e, através desses, ele enfia seus dez dedos. Não seria possível ver o homem, mas qualquer cabeça sensata concluiria: aí atrás há um poder central ao qual pertencem os dez dedos.

Essa alma grupal é o que dá aos animais a sabedoria da natureza. É por causa dela que, por exemplo, determinadas espécies de pássaros migram para altitudes e direções bem determinadas a fim de escapar do inverno, e na primavera retornam, por outros caminhos. E aqui podemos perceber a presença de uma verdade absoluta.

Os pássaros não têm a capacidade de discutir ou defender idéias opostas, mas se tivessem não o fariam, pois para eles não existem idéias opostas. O poder central, que rege seus instintos, é para eles uma verdade absoluta. Todos agem dessa mesma maneira porque, inconscientemente, sabem o que é melhor para eles.

Segundo Steiner, o homem só chegou a seu eu atual gradualmente. Antes disso ele também possuiu uma alma grupal. Mas isso foi há muito tempo. Naquela época as condições de vida tão diferentes, que o estado de sono e o estado vígil do homem eram muito próximos. Em estado de vigília o homem ainda não via contornos tão firmes, perfis tão nítidos, cores tão intensas, ligados às coisas. Em compensação, sua consciência não cessava completamente durante o sono, e então ele via as coisas espirituais, e por isso ele possuía a sabedoria da natureza.

Com o passar dos tempos, o mundo físico foi ganhando cada vez mais contornos e clareza para o homem, e o mundo espiritual foi se tornando cada vez mais obscuro. O homem foi deixando sua alma grupal e pouco a pouco se desenvolveu a consciência individual.

O próprio Steiner classifica a alma humana em quatro instâncias, ou faculdades da alma: alma da sensação (evoluiu entre egípcios e babilônicos); alma do intelecto (desenvolvida no período grego-romano e helenístico, daí a eclosão da filosofia); alma do sentimento (desenvolvida na idade média, daí a importância da fé e outros valores afetivos da época); e alma da consciência (que está agora, na modernidade, em plena época de evolução).

As sociedades e sistemas nascem, se desenvolvem e evoluem pelas mãos do homem, e acabam afastando-o do seu próprio eu. As regras e os caminhos já determinados antes de nascermos, tornam nossa intuição e nosso instinto humano quase que inúteis. E como quase não precisamos usá-los no dia-a-dia, eles se tornam difíceis de acessar.

Eu penso que ainda existe alguma coisa comum na alma de todos os homens. Eu me convenço disso cada vez mais. A obra “Inconsciente coletivo e arquétipo”, do psicanalista Carl Gustav Jung, foi uma das coisas que reforçou essa idéia na minha cabeça.

Fazendo uma analogia com o conceito de “alma grupal”, o inconsciente coletivo seria a parte que sobrou de comum na psique dos homens. Essa parte está no nosso inconsciente, e seria então a nossa verdade absoluta, que é igual para todos.

Pelo fato de que essa verdade está contida no inconsciente, aparecem as opiniões divergentes e as verdades relativas, porque junto com o processo de individualização do ser humano, veio o afastamento entre o nosso inconsciente e o nosso consciente. E como hoje em dia nós estamos muito mais ligados ao consciente, a verdade absoluta está muito distante para nós.

A verdade absoluta, da qual eu falo, não é uma frase, ou uma coisa concreta. Essa verdade é simplesmente a ausência de discórdia. É o consenso e a harmonia entre as pessoas.

Minha visão pode parecer utópica, mas eu prefiro acreditar nessa verdade. E não acho que hoje em dia, no sistema em que vivemos, ela seja inútil. Pelo contrário, é agora que precisamos dela. Mas não é tão fácil acessá-la, pois ela aparece através de símbolos, aos quais Jung chamou de arquétipos.

Esses arquétipos podem ser notados nas obras do inconsciente, como por exemplo, no sonho. Os sonhos são de extrema importância para a nossa aproximação com a nossa essência. Por isso precisamos prestar atenção nos nossos sonhos e saber interpretar os arquétipos que eles trazem.

Outras obras do inconsciente, que podemos usar para acessar a verdade absoluta, são as mitologias e os contos de fadas, pois eles trazem, em forma de arquétipos, características e eventos comuns a todos os seres humanos. É por isso que podemos identificar temas parecidíssimos, ou até idênticos, em mitologias e contos de fadas de regiões muito distantes entre si, que na época que foram escritas, não tinham nenhuma maneira de comunicação.

Para concluir, eu digo então, que a verdade absoluta existe, e pode ser acessada. Mas ela só trará alguma harmonia, no dia em que todas as pessoas puderem ver além de seus próprios problemas, opiniões e valores. É preciso olhar para o que existe de humano dentro de nós e em cada uma das pessoas que nos rodeia. E para isso de nada valem as regras (que serviriam, em tese, para “facilitar” a convivência social). Devemos, pelo contrário, saber quem realmente somos, independente de qualquer sistema ou rótulo, nem que para isso nós esbarremos nas margens da sociedade. Só então saberemos o que realmente queremos e precisamos.



domingo, 21 de março de 2010

urgência

qual a urgência de ter na boca a palavra certa de todos?
qual a urgência em aproximar-se do desejo?

e se fôssemos cegos? (será que não somos?)
teríamos urgência no tocar?
seríamos, ainda, superficiais?
amaríamos o quê? quem?
desejaríamos o que além de sentir na pele a cor do mundo?
sentir na pele o cheiro do toque?
teríamos urgência pela vida?
mesmo fundindo-se na pele de tantos?

e se nossos limites se esfumaçassem?
teríamos urgência em possuir?
teríamos nomes e tom de voz?
teríamos ainda o vazio?

qual a urgência?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Eu sou Autêntico?

[...]
Pensarmos sobre o quao autênticos realmente somos é uma reflexao árdua. Porque o senso de autenticidade é algo que buscamos o tempo todo - nao é estático. É ele, afinal, que nos guia em nossa carreira, em nossos relacionamentos, em nossa convivência social. É o propulsor que nos faz entender o que realmente queremos e correr atrás daquilo. O conceito de autenticidade está relacionado a diversos fatores, mas talvez o mais fundamental deles seja o autorreconhecimento: conhecer e acreditar em nossas próprias motivaçoes, emoçoes, preferências e habilidades. "Ele começa na infância, quando somos capazes de nos ver como seres independentes, com vontades próprias, ainda que nao tenhamos a plena consciência disso", afirma o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos. Na adolescência, buscamos tribos, roupas e rótulos nos quais possamos nos encaixar como uma forma de percebemos o que somos (ou nao!) - quem aí nunca foi um roqueiro invertebrado ou frequentou uma turma bem estranha nos tempos de colégio? Conforme nos tornamos adultos, criamos compromissos com a carreia, a comunidade, a fé e a família em busca da nossa autoimagem. (E entramos, as vezes, em crises existenciais ao procurar ela.)
A autencidade está em reconhecer desde qual comida você quer colocar no prato até a maneira como está se sentindo agora, enquanto lê esse texto. Ela exige um exercício contínuo de consciência. Você precisa refletir na hora de escolher entre os 200 canais na TV a cabo, que tipo de café vai solicitar na padaria, de que forma vai expor a sua esposa que está chateado com ela sem ofendê-la.
Ser autêntico pode ser exaustivo, dá trabalho. Mas no fundo é nossa capacidade de sermos originais que permite avaliar nossas forças e - pricipalmente - nossas fraquezas diante do nosso dia a dia. Por isso a autenticidade está ligada a nossas atitudes.
Ela requer que possamos agir com congruência com nossos próprios valores e vontades, mesmo sob risco de rejeiçao. Isso é essencial para nossos relacionamentos mais próximos, uma vez que a intimidade nao pode ser desenvolvida sem abertura e honestidade. " A autenticidade é um imporviso. Exige trabalho e respostas que nao sejam prontas, uma interlocuçao que supere as formalidades. É a intimidade da criaçao a todo instante, e por isso exige tempo a perder", reflete o poeta Carpinejar. Como no exemplo da Graça (personagem literária, citada no ínicio da matéria), é quase impossível viver feliz em um relacionamento em que nao se pode - ou nao se quer - ser o que se é. Viver como o outro é mais fácil, claro, mas muito mais apriosionante.
[...]
Recuse imitaçoes
Vida Simples, Revista.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Dor Elegante

http://www.youtube.com/watch?v=Ok2hwhiwK2M&feature=related

Dor Elegante


Composição: Itamar Assumpção E Paulo Leminsk


Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, edens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

segunda-feira, 15 de março de 2010

Urubus e sabiás




"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.


— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."


Rubem Alves
O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 81.

domingo, 14 de março de 2010


Desenhos por: Gabriel Bá e Fabio Moon

(Acho que dá pra ver maior se clicar em cima...)
:)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Enem: Exame será realizado em outubro de 2010


Por: Portal do Mec

O ministro Fernando Haddad, da Educação, anunciou na manhã desta quarta-feira, 10, em São Paulo, que o Ministério da Educação, ao contrário do que pretendia, só fará uma edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2010.

A data está sendo discutida nesta quarta-feira entre os reitores dos institutos e das universidades federais com a direção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), e provavelmente será marcada para final de outubro, em razão do pleito eleitoral que se realiza durante aquele mês.

O atraso nas negociações com os órgãos de controle federais, CGU e TCU, foi determinante na decisão do ministro Haddad. Ele está

 convencido de que não tem condições de realizar um novo exame nas dimensões do Enem, com mais de 4 milhões de inscritos, em todo o território nacional, se tiver que enfrentar uma licitação nos moldes da que ocorreu no ano passado.

O ministro também afirmou que, dependendo do interesse dos institutos e universidades federais, as vagas de meio de ano poderão ser selecionadas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com base no Enem do ano passado. Isso quer dizer que os estudantes que não conseguiram vagas no atual processo de seleção, ainda em curso, terão outra chance em maio ou junho. O ministro esteve na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para participar de reunião do Conselho Universitário e visitar as instalações do Hospital São Paulo.

Unesp Vestibular Meio de Ano já tem calendário


Por: Vunesp

As inscrições para o Vestibular Meio de Ano da Unesp serão realizadas de 3 a 21 de maio. A Universidade oferece 550 vagas em cursos nas cidades de Bauru, Dracena, Ilha Solteira, Jaboticabal, Ourinhos, Registro e Sorocaba. Para se inscrever, os candidatos deverão acessar esta página da Vunesp, fundação responsável pelo exame, e pagar uma taxa de R$ 110.

Os cursos oferecidos são Administração (Jaboticabal), Agronomia (Ilha Solteira e Registro), Geografia (Ourinhos), Zootecnia (Dracena e Ilha Solteira) e as engenharias Ambiental (Sorocaba), Civil (Ilha Solteira), de Controle e Automação (Sorocaba), de Produção (Bauru), Elétrica (Ilha Solteira) e Mecânica (Ilha Solteira).

Em relação ao Vestibular Meio do Ano aplicado em 2009, a diferença é a aplicação no sistema de duas fases, como foi feito no Vestibular 2010, realizado no final de 2009.

Outra mudança é a saída dos cursos de Administração de Tupã, oferecidos nos períodos diurno e noturno,

 com 40 vagas por período. Esses cursos serão oferecidos no Vestibular 2011.

Unesp utilizará a nota do Enem 2009 para composição da nota final dos candidatos habilitados para a segunda fase. A aplicação da Prova de Conhecimentos Gerais (primeira fase) está marcada para o dia 13 de junho, com 90 questões de múltipla escolha.

O resultado dessa etapa será divulgado em 25 de junho. As provas da segunda fase serão aplicadas nos dias 4 e 5 de julho, com questões de múltipla escolha e redação. O resultado final está previsto para 21 de julho, cinco dias antes das matrículas dos convocados.

Sobre a UnespA Universidade Estadual Paulista está presente em 23 cidades do Estado de São Paulo com 32 faculdades e institutos, onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão em todas as áreas do conhecimento. Fundada em 1976, a instituição oferece 168 cursos de graduação e 112 programas de pós-graduação. Tem 46,5 mil alunos (34,5 mil na graduação e 12 mil na pós), 3,3 mil professores e 6,9 mil servidores técnico-administrativos. Possui cerca de 1.900 laboratórios e um Hospital de Clínicas.

Oferece cursos pré-vestibulares gratuitos em suas unidades, bem como diversos programas de extensão de serviços à comunidade. Três escolas de ensino técnico são mantidas pela Universidade: o Colégio Técnico Industrial em Bauru, o Colégio Técnico Industrial em Guaratinguetá e o Colégio Técnico Agrícola em Jaboticabal. Clique aqui para conhecer outros dados sobre a instituição.

quarta-feira, 10 de março de 2010

cheire, ouça, veja só!

antigamente queríamos ser astronautas, bailarinas, guitarristas, presidentes, jogadores de futebol, ginastas, pilotos.... sei lá, tantas coisas! era tudo tão incrível! fantástico! queríamos... porque esses sonhos nos faziam flutuar antes de dormir, imaginando os passos dados na lua, as roupas das danças, os aplausos, a torcida toda gritando, as nuvens de algodão nos envolvendo no céu. eram sonhos tão vivos! com cores e cheiros e sons e sensações e frios na barriga e.. e...e..e..e.e.e. e hoje? quantos de nossos sonhos sobreviveram? o que sobreviveu daquela alegria de ser criança, quando tudo é possível e divertido? o que sobreviveu das cores e cheiros e sons e sensações e frios na barriga? o que ainda nos resta de fantástico? além daquilo que agente já sabe/pensa que é SÓ um sonho e nada mais? perdeu-se a inocência, a sinceridade dos olhos, a doçura dos abraços e todos os sonhos junto.
podem chamar a isto de pessimismo...
eu já prefiro encarar como um primeiro passo. a partir daí (do próximo) é que se poderá de fato dizer se nos enfiamos em buracos.

ao próximo passageiro, deixo o próximo passo.



ps: será que se tivéssemos caído como gotas no mar do pertencer teríamos eternamente a inocência dos olhos? acho que sonharíamos todos juntos, e a cada olhar que cruzasse outro, um novo sonho/universo nasceria. (há!)

uma doçura de abraço

ass.: crazy, a outra
"A conclusão é: todos têm o mundo aos seus pés. Têm. Pisa-se e no que pisa é mundo. Poucos, sim, são os que têm essa noção; os poucos que poderão se tornar os eternos. Que vão deixar marcas das suas passagens na calçada. Mas todos, até os da mais baixa auto-estima, dormem o sonho individual do ser. Ser alguma coisa no mundo - porque alguns conseguem? Não, todos conseguem. Ser é fácil. Não existe quem deixe de ter a sua linhazinha traçada no gráfico do simplesmente existir, tornando-se alguém mesmo sendo ninguém. E a vida, ora porras, é tão-somento-isso, ser uma coisa, qualquer coisa, um merda, um merdinha." (...)
As pessoas dos livros
Fernanda Young

segunda-feira, 8 de março de 2010

pertencer

ai se eu pudesse ser uma gota, ou como uma que não importa de que altura cai, a sua consequência é pertencer, é encontrar-se. que bom seria depois de uma queda livre mergulhar na tranquilidade daquilo que é imenso e te evolve, engloba como parte reconhecida, que retorna. ter a sensação reconfortante de estar novamente em casa. a serenidade de estar segura e muito bem acompanhada. Imagine!
Imagine cair e se econtrar por toda parte! perder o medo, a solidão, perder o senso de ser apenas um, e ser um mundo d'água. imagine ser o todo e o nada, simplesmente ser, sem a preocupação de caber ou não...dissolver.
Dissolver...

Escolha do curso


Basta apenas saber o caminho.......

terça-feira, 2 de março de 2010


Todos os dias acontecem no mundo coisas que não são explicáveis pelas leis que conhecemos das coisas. Todos os dias, faladas nos momentos, esquecem, e o mesmo mistério que as trouxe as leva, convertendo-se o segredo em esquecimento. Tal é a lei do que tem que ser esquecido porque não pode ser explicado. À luz do sol continua regular o mundo visível. O alheio espreita-nos da sombra.

Fernando Pessoa