segunda-feira, 22 de março de 2010

Minha primeira postagem, espero que dê certo

Na última aula de filosofia, quando o Marlon falou sobre os sofistas, surgiu uma discução sobre verdade absoluta e verdade relativa.
Isso ficou muito na minha cabeça.. então eu escrevi uma coisa...
Eu tentei enxugar ao máximo as minhas idéias, e mesmo assim o texto ficou um tanto quanto comprido. Mas eu fiquei com vontade de compartilhar essas idéias, então eu vou postar mesmo assim... leia quem tiver saco! obrigada!

Falar sobre uma verdade absoluta, hoje em dia, é uma tarefa um tanto quanto intimidadora, pelo seguinte motivo: com uma característica cada vez mais individualista, as pessoas se dividem em opiniões muito divergentes e vivem a discutir e a discordar do pensamento alheio.

Quando eu digo que as pessoas estão adquirindo cada vez mais uma característica individualista, estou querendo dizer que isso é um processo, e que antes, em tempos muito remotos, essa individualidade já chegou a nem existir entre os seres humanos. Isso aconteceu, quando nós, assim como os outros animais, tínhamos uma “alma grupal”.

Esse conceito de “alma grupal” é do pensador Rudolf Steiner, antropólogo que viveu entre 1861 e 1925. Para mim, Steiner foi mais do que isso. Ele foi um cientista e terapeuta do corpo, da alma e do espírito, que explicou muitos dos conflitos e desarmonias humanas através, dentre outros, desse seu conceito de “alma grupal”.

Bem resumidamente podemos dizer que para Steiner os animais não possuem um eu, tal como o homem o possui. Esses eus humanos são de tal natureza que cada homem tem o seu eu. No caso dos animais é diferente: eles têm um eu grupal, uma alma grupal, o que significa que um grupo de animais da mesma espécie tem um eu comum. Esse eu comum dos animais está no mundo astral, ou seja, existe uma entidade superior, um poder central, que rege os animais de certa espécie.

Para entendermos melhor esse poder central, podemos usar a imagem um homem que está atrás de uma parede com dez orifícios e, através desses, ele enfia seus dez dedos. Não seria possível ver o homem, mas qualquer cabeça sensata concluiria: aí atrás há um poder central ao qual pertencem os dez dedos.

Essa alma grupal é o que dá aos animais a sabedoria da natureza. É por causa dela que, por exemplo, determinadas espécies de pássaros migram para altitudes e direções bem determinadas a fim de escapar do inverno, e na primavera retornam, por outros caminhos. E aqui podemos perceber a presença de uma verdade absoluta.

Os pássaros não têm a capacidade de discutir ou defender idéias opostas, mas se tivessem não o fariam, pois para eles não existem idéias opostas. O poder central, que rege seus instintos, é para eles uma verdade absoluta. Todos agem dessa mesma maneira porque, inconscientemente, sabem o que é melhor para eles.

Segundo Steiner, o homem só chegou a seu eu atual gradualmente. Antes disso ele também possuiu uma alma grupal. Mas isso foi há muito tempo. Naquela época as condições de vida tão diferentes, que o estado de sono e o estado vígil do homem eram muito próximos. Em estado de vigília o homem ainda não via contornos tão firmes, perfis tão nítidos, cores tão intensas, ligados às coisas. Em compensação, sua consciência não cessava completamente durante o sono, e então ele via as coisas espirituais, e por isso ele possuía a sabedoria da natureza.

Com o passar dos tempos, o mundo físico foi ganhando cada vez mais contornos e clareza para o homem, e o mundo espiritual foi se tornando cada vez mais obscuro. O homem foi deixando sua alma grupal e pouco a pouco se desenvolveu a consciência individual.

O próprio Steiner classifica a alma humana em quatro instâncias, ou faculdades da alma: alma da sensação (evoluiu entre egípcios e babilônicos); alma do intelecto (desenvolvida no período grego-romano e helenístico, daí a eclosão da filosofia); alma do sentimento (desenvolvida na idade média, daí a importância da fé e outros valores afetivos da época); e alma da consciência (que está agora, na modernidade, em plena época de evolução).

As sociedades e sistemas nascem, se desenvolvem e evoluem pelas mãos do homem, e acabam afastando-o do seu próprio eu. As regras e os caminhos já determinados antes de nascermos, tornam nossa intuição e nosso instinto humano quase que inúteis. E como quase não precisamos usá-los no dia-a-dia, eles se tornam difíceis de acessar.

Eu penso que ainda existe alguma coisa comum na alma de todos os homens. Eu me convenço disso cada vez mais. A obra “Inconsciente coletivo e arquétipo”, do psicanalista Carl Gustav Jung, foi uma das coisas que reforçou essa idéia na minha cabeça.

Fazendo uma analogia com o conceito de “alma grupal”, o inconsciente coletivo seria a parte que sobrou de comum na psique dos homens. Essa parte está no nosso inconsciente, e seria então a nossa verdade absoluta, que é igual para todos.

Pelo fato de que essa verdade está contida no inconsciente, aparecem as opiniões divergentes e as verdades relativas, porque junto com o processo de individualização do ser humano, veio o afastamento entre o nosso inconsciente e o nosso consciente. E como hoje em dia nós estamos muito mais ligados ao consciente, a verdade absoluta está muito distante para nós.

A verdade absoluta, da qual eu falo, não é uma frase, ou uma coisa concreta. Essa verdade é simplesmente a ausência de discórdia. É o consenso e a harmonia entre as pessoas.

Minha visão pode parecer utópica, mas eu prefiro acreditar nessa verdade. E não acho que hoje em dia, no sistema em que vivemos, ela seja inútil. Pelo contrário, é agora que precisamos dela. Mas não é tão fácil acessá-la, pois ela aparece através de símbolos, aos quais Jung chamou de arquétipos.

Esses arquétipos podem ser notados nas obras do inconsciente, como por exemplo, no sonho. Os sonhos são de extrema importância para a nossa aproximação com a nossa essência. Por isso precisamos prestar atenção nos nossos sonhos e saber interpretar os arquétipos que eles trazem.

Outras obras do inconsciente, que podemos usar para acessar a verdade absoluta, são as mitologias e os contos de fadas, pois eles trazem, em forma de arquétipos, características e eventos comuns a todos os seres humanos. É por isso que podemos identificar temas parecidíssimos, ou até idênticos, em mitologias e contos de fadas de regiões muito distantes entre si, que na época que foram escritas, não tinham nenhuma maneira de comunicação.

Para concluir, eu digo então, que a verdade absoluta existe, e pode ser acessada. Mas ela só trará alguma harmonia, no dia em que todas as pessoas puderem ver além de seus próprios problemas, opiniões e valores. É preciso olhar para o que existe de humano dentro de nós e em cada uma das pessoas que nos rodeia. E para isso de nada valem as regras (que serviriam, em tese, para “facilitar” a convivência social). Devemos, pelo contrário, saber quem realmente somos, independente de qualquer sistema ou rótulo, nem que para isso nós esbarremos nas margens da sociedade. Só então saberemos o que realmente queremos e precisamos.



5 comentários:

Brubis disse...

LINDO! surpreendentemente lindo

armarinhos em geral disse...

Ah Bru!
Obrigada!
Que bom que vc leu td!

Lu Tortorella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lu Tortorella disse...

opa!
que estranho!
(??)
eu não sou armarinhos em geral..
eu sou a lu...
não faço idéia pq meu comentário saiu com esse nome

marlon disse...

Lu, surpresa boa no caminho.
Fica leve a terça, translúcida a inferência!