sábado, 26 de junho de 2010

"Não tenhamos pressa,
mas não percamos tempo".
José Saramago

terça-feira, 22 de junho de 2010

"(...)
Em plena era da informação, sofremos mesmo do mal do "pensar demais". Tanto que, de muito raciocinar, sobrecarregamos toda a capacidade de atenção do cérebro, comprometemos a saúde da mente. Como resultado, acabamos entregues à depressão e à ansiedade. Pensar demais e saber demais podem se transformar em um problema.
(...)
A questão é que nem que nos esforcemos muito podemos tornar todas as decisões da nossa vida sob o crivo da razão. Nossa mente trabalha melhor relegando ao inconsciente uma boa parcela do pensamento racional - ela não daria conta de tudo, se não usasse esse artifício. Por causa disso, a própria evolução dotou nossa mente da capacidade de reagir antes mesmo de pensar quando estamos diante de uma situação de risco - a intuição é, portanto, uma aptidão evolutiva. (...)
(...) A intuição permite à nossa mente colocar alguns comportamentos e decisões em piloto autmomático. "(...) As partes inconscientes da mente são capazes de decidir sem que nós - ou o e consciente - conheçamos as razões", afirma Gigerenzer.

O poder da intuição - Vida Simples (Rafael Tonon)


Exercitem a intuição, descubram suas façanhas, e deleitem de sua importância.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A grande frase da sua vida é: "Eu era cega, agora estou enxergando." Tatiana fica plenamente feliz quando sente o equilíbrio, "a harmonia da vida". Este equilíbrio que tanto a sensibiliza está presente em muitos fatos, momentos e coisas. Hoje ela conclui: "Cumpri minha missão, sempre trabalhei, não devo nada a ninguém e não tenho mais medo do que as pessoas possam falar de mim. Não tenho de dar satisfações. Estou livre, desimpedida e com tempo para lembrar da minha vida, que não trocaria por nenhuma outra. Foi difícil, mas valeu e continua valendo. As lembranças voltam e me deixam feliz."
(...) mulher e artista que acredita que o seu grande trunfo na vida foi ter amor-próprio.

Tatiana Levoska: Uma bailarina solta no mundo - Suzana Braga

domingo, 13 de junho de 2010

“Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar”

(ANTONIO MACHADO).

"Se eu Fosse Eu" de Clarice Liespector

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A realidade não muda simplesmente porque resolvemos não reconhecê-la". 
(David Zimerman)

A coragem do amor que dura

Quando amo, consigo olhar o mundo por duas janelas que não se confundem, a minha e a do ser amado

PROLONGANDO MINHAS observações da semana passada sobre "Quincas Berro d'Água", vários leitores e leitoras observaram que a literatura e o cinema, em geral, glorificam a coragem de quem, um belo dia, chuta o balde e vai embora.
 
E como ficam os que passam a vida inteira deslocando o balde para estancar as goteiras? Será que eles são todos covardes e acomodados?
 
É inegável: nossa cultura idealiza a ruptura, a aventura, a saída para o mar aberto. Em matéria amorosa, o momento que preferimos contar é a hora do apaixonamento.
 
Depois disso, gostamos de imaginar que "eles viveram felizes para sempre", mas sem entrar em detalhes que poderiam transformar a história numa farsa.
 
Uma boa solução, aliás, é que os amantes morram logo. O sumiço (de ambos ou de um dos dois) evita que a comédia da vida que levariam juntos contamine a apoteose do encontro inicial. Os amantes ideais são os que não duraram no tempo: Romeu e Julieta, o jovem Werther e Charlotte, Tristão e Isolda.
 
Concluir o quê? Que a coragem é sempre a de quem deixa a mornidão de seu conforto para se queimar num instante de paixão? Será que não pode haver coragem nos esforços para que o amor dure?
 
É óbvio que a duração não é um valor em si: uma relação pode durar a vida inteira e ser uma longa e insulsa experiência repetitiva, sem amor algum. Mas, inversamente, será que as paixões-relâmpago são amores? Enfim, seria útil dispor de uma definição do amor.
 
Justamente, li nestes dias um livro que me tocou, "Éloge de l'Amour" (elogio do amor, Flammarion 2009, ainda não traduzido para o português), de Alain Badiou; é a transcrição de uma breve entrevista do filósofo francês.
 
Nela, inevitavelmente, Badiou constata que, em nossa cultura, a visão dominante do amor é a de uma espécie de "heroísmo da fusão" dos amantes, que, uma vez consumidos por sua paixão, podem sair de cena (para não se tornar ridículos) ou sair do mundo e morrer (para se tornar sublimes).
 
Contra essa visão, Badiou define o amor mais como um percurso do que como um acontecimento: segundo ele, o amor precisa durar um tempo porque é "uma construção".
 
Confesso que fiquei com medo de que o filósofo nos propusesse amores tagarelas, em que os amantes não parariam de discutir a relação (claro, para construí-la). Por sorte, não se trata disso. Então, o que constroem os amantes?
 
Geralmente, explica Badiou, minha experiência do mundo é organizada por minha vontade de sobreviver e por meu interesse particular: vejo o mundo só de minha janela.
 
Certo, ao redor de mim, há muitos outros de quem gosto e aos quais reconheço o direito de também sobreviver e promover seus interesses.
 
Mas o fato de eu respeitar esses meus semelhantes não muda em nada meu ângulo de visão. É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela.
 
Entende-se que o amor assim definido exija tempo. Quanto tempo? Um mês, um ano, uma vida, tanto faz. Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego.
 
O amor segundo Badiou, em suma, é uma aventura, mas que precisa ser obstinada: "Abandonar a empreitada ao primeiro obstáculo, à primeira divergência séria ou aos primeiros problemas é uma desfiguração do amor. Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem".
 
Você aprecia a definição, mas a acha um pouco abstrata? Gostaria da história de um amor que dura e se obstina sem se tornar pesadelo ou farsa? Pois bem, acabo de ler um texto comovedor, bonito e capaz de ilustrar e explicar perfeitamente as palavras de Badiou.
 
Em "Amar o Que É: Um Casamento Transformado" (Objetiva), Alix Kates Shulman conta como ela e Scott, o marido, reinventaram o mundo, a dois, obstinadamente, depois de um acidente que precipitou Scott numa forma de demência.
 
Há momentos difíceis, sacrifícios e durezas, mas, curiosamente, o relato não chega nunca a ser triste porque se trata de uma extraordinária história de amor.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Assistindo ao show de abertura da Copa, me senti emocionada inúmeras vezes.
Emocionada com a felicidade desse povo tão carente e, ao mesmo tempo, tão contente com a celebração. Emocionada com a energia viva que eles transmitiram. Com a superação que eles demonstraram para o mundo (para o mundo!, repito). Me surpreendi com tamanha atitude que eles revelaram ter. A vivacidade deles - novamente - a vivacidade! E isso não é qualquer país que possui.
Mas o mais importante que me tocou, foi a mensagem de caráter mundial e altamente construtivista, apresentada nos vídeos durante o show. "1 GOAL: EDUCATION FOR ALL". Os vídeos são sensíveis e realistas.
Com certeza não temos menção do que é não poder estudar. E como não temos! Quantos se pudessem não deixariam de estudar? Quantos não fazem isso por opção? Eu já fiz! E voltei atrás. Porém, isso é o de menos.
Como podemos não nos atentarmos a isso? Educação é a base da sociedade, ou deveria ser. Eu não posso conceber como vivemos tão levianos em relação ao que acontece no mundo, como prosseguimos cegos pelo nosso próprio egoísmo vicioso, como temos estômago para olhar desgraças, rir delas, e continuar despreocupados.
Até entendo que pouco é o nosso poder de transformar o mundo. Mas não é nesse âmbito que quero tocar.
Quando olhamos os problemas, e dizemos que nada podemos fazer para transformar o mundo, não quer dizer que, devemos viver submersos no nosso próprio mundo, e esquecer tudo o ocorre ao nosso lado, a uma distância de alguns metros. Isso na verdade é usufruir de uma desculpinha conformista, comodista. Todos somos seres livre e podemos tomar alguma atitude, de intenção generosa e humana, mesmo que não atinja o raio de um Sol.
Toda essa situação mundial é muito sensível pra mim, me leva a derramar lágrimas, a doer o meu coração. Como pode não ser sensível?
Eu não vou mudar o mundo, óbvio! Nem vou tentar. Mas vou fazer algo que dê estrutura para um mundo melhor. E eu queria que todos fizessem um pouco disso pelo menos, só um pouco.
Posso ser utópica, como Marx - vide aula de Sociologia de ontem -, mas estarei fazendo o que está ao meu alcance, diante das grandes necessidades desse planeta, que é a minha casa, o lugar que devo cultivar, o lugar que viverei até os últimos segundos, e é dele que tudo surgi, dele e de nós, então nossa responsabilidade com esse espaço é imensa, é frágil.
Obrigada pela atenção.

sexta-feira, 4 de junho de 2010
















Conselho para escolher carreira

CONTARDO CALLIGARIS 

Conselho para escolher carreira

Você pode mudar de faculdade e de carreira, e essas mudanças não são a prova de fracasso algum

A ESCOLA pública italiana impunha uma aula semanal de religião (católica, claro). Na terceira série, aprendi que, para me tornar sacerdote, seria imprescindível que eu tivesse "a vocação" (com o artigo definido).
Em princípio, essa condição facilitava as coisas: afinal, ou eu era chamado por Deus ou não era. No entanto, Deus não chama a gente por carta registrada.
Era possível, eu pensava, que ele se manifestasse por sinais misteriosos, que eu não entenderia, ou pior, que eu evitaria entender -talvez porque preferisse perseguir ambições mais mundanas ou porque meus pais não gostassem da ideia de ter um filho padre.
Seja como for, se eu recebesse, mas não escutasse a chamada, não estaria apenas fazendo pouco caso da vontade divina: eu estaria fugindo de meu destino, seria culpado de desperdiçar minha vida.
Na quarta e quinta séries, foi a vez de o Estado se preocupar com nossas vocações. Naquela época, era necessário escolher muito cedo entre o clássico, o científico e os cursos técnicos que levavam diretamente para o trabalho, sem dar acesso para as faculdades.
Tratava-se, portanto, de saber se tínhamos jeito para as humanas ou para as exatas e, em cada caso, qual era o tamanho do nosso jeito. Uma casa caiu, sepultando seus moradores; seu primeiro pensamento é "se Deus existe, por que ele permite tamanho sofrimento?"; pois bem, as humanas são sua vocação.
Restava verificar, com outros testes, se você tinha pano suficiente para ser professor de filosofia ou se era melhor que você se contentasse em ser repetidor no primário.
De fato, a orientação profissional precoce eternizava a divisão social (nunca vi um aluno de classe média-alta ser encaminhado para cursos técnicos). Mas a intenção era nobre: descobrir qual era a semente escondida em cada um de nós.
Detectando o embrião de nossas aptidões e disposições, poderíamos agir de maneira que a vida realizasse plenamente o nosso potencial.
A partir dos anos 60, em grande parte graças à influência da psicologia de Alfred Adler, ficou claro que, na hora de escolher uma carreira, os talentos e as predisposições são tão importantes quanto os sonhos, os devaneios, as paixões e as imagens idealizadas de tal ou tal outra profissão que encontramos, por exemplo, nas ficções que nos marcam.
O medo de não escutar a chamada divina foi substituído pelo medo de não entender direito nosso próprio desejo -pois seríamos competentes, "realizados" e felizes só se nossa profissão for uma extensão de nossas paixões íntimas. Nesse caso, o trabalho seria leve e divertido, como um hobby.
Em suma, a semente que estaria em nós e que deveria vingar se tornou mais complexa. Mas a ideia de que existe uma semente que é preciso descobrir continuou valendo e preocupando pais e filhos.
Uma leitora, Cecília, me escreve sobre as inquietudes da filha, Luana, 16, na hora de escolher uma carreira que esteja "em consonância com a personalidade, o temperamento, o querer" de Luana e também "com o mercado do trabalho".
Uma sugestão para Luana. Entendo que a escolha de um vestibular, de uma faculdade e, em última instância, de uma profissão, pareça um ato definitivo, mas não é nada disso.
Você pode mudar de faculdade e de carreira; pode cursar um ano de direito, escolher passar para ciências sociais, decidir que o que você realmente quer é biologia e, quem sabe, cursar medicina aos 35 anos. Menos óbvio e mais importante é entender que essas mudanças não seriam a prova de fracasso algum.
Se você mudar de faculdade ou carreira, não será porque você se enganou na tentativa de descobrir qual era a semente que você carregava consigo.
Aliás, esqueça a ideia da semente. Ser jovem não é ser semente; é ser, antes de mais nada, uma narrativa aberta. Imagine que você é o começo de uma história: havia uma moça de 16 anos que gostava dos Beatles e dos Rolling Stones e, um belo dia, ela saiu para fazer sua inscrição no vestibular... Continue. E lembre-se de que uma boa história tem reviravoltas e surpresas.
Em poucas palavras, em vez de tentar descobrir a famosa semente, invente sua vida.