segunda-feira, 22 de março de 2010

a importância do ócio criador

Que bom que deu tudo certo na minha primeira postagem... então já vou para a segunda!
Vou colocar agora uma coisa que eu escrevi num momento de revolta contra a rotina.



Conforme a Mitologia grega, Sísifo era um mortal muito astuto, que não suportava a idéia de que um dia deveria morrer.
Acontece que certa vez, chegado o dia de sua morte, o grande Zeus envia à Terra Tânatos, o deus da morte, para buscar Sísifo e levá-lo ao mundo subterrâneo. Porém este, esperto como era, ao encontrar com o enviado de Zeus, elogiou sua beleza e pediu para deixá-lo enfeitar seu pescoço com um colar. Tânatos, lisonjeando, aceitou o presente, mas acabou sendo preso, pois o colar era, na verdade, uma coleira.
Assim Sísifo conseguiu o que mais almejava na vida, driblar seu destino e livrar-se da morte. Mas não demorou muito para arranjar novas encrencas, mas agora com Hades, que por ser deus da guerra precisava da morte para consumar suas batalhas. Como Tânatos estava aprisionado, passou-se um tempo sem que ninguém morresse. Então Hades foi atrás de saber o que estava acontecendo com o deus da morte, e ao descobrir os feitos de Sísifo, mandou-o imediatamente ao encontro de Zeus, para que recebesse uma punição.
Sísifo foi condenado a rolar eternamente uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível.
Esse trabalho rotineiro e cansativo manteve Sísifo na Terra por toda a eternidade. Mas seria mesmo essa a vida eterna que um dia ele sonhara? Essa é uma questão que norteia muitos homens hoje em dia, e ela está muito relacionada à negação da morte, como acontece também na história de Sísifo. Eu digo isso pois existem estudos que tratam do enterro dos mortos como a primeira manifestação de consciência do ser humano. Foi quando o homem passou a entender que existia um tempo entre o nascimento e a morte. Esse tempo é o que chamamos de vida. Acontece que desde então, o homem passou a cada vez mais querer driblar a morte. Inventando mil coisas para preencher a vida.
Assim como Sísifo, muitas vezes nós temos a mania de nos acharmos mais poderosos do que realmente somos. Sísifo quis enfrentar a morte, e nós também estamos tentando. Fizemos da nossa sociedade um sistema baseado na competição. Quanto mais pessoas você tiver abaixo de você, mais dinheiro você terá para alcançar aquilo que você nunca viu de perto, mas que acha que seja a verdadeira felicidade.
As pessoas se vêem então, na obrigação de ocupar um lugar de prestígio na sociedade. E muitas vezes realizam trabalhos que dão dinheiro, mas que de nada valem.
No meio dessa corrida insana do capital, as pessoas perdem o seu tempo. Por causa de tanto trabalho e de tanta pressa em trabalhar, ninguém mais tem tempo para pensar na real felicidade, que muitas vezes não ocupa sequer um minuto de nossas vidas.
Nosso pequeno tempo livre está em algum lugar. E por menor que ele seja, nós precisamos procurar nele algo que nos faça bem de verdade. Não acho que a melhor coisa a fazer seja chegar sexta feira em casa cansada de tanto trabalhar, encher a cara para relaxar e depois no sábado acordar com uma tremenda dor de cabeça, passar o dia todo bebendo água para poder pegar uma balada à noite, para depois finalmente, no domingo, sentar a bunda no sofá e assistir ao Faustão, ao big brother, ao fantástico e dormir babando ali mesmo, até o despertador tocar e a gente voltar pra nossa tão odiada rotina.
Eu sei que é difícil, ou quase impossível nadar contra a corrente. Não acho que ninguém deva parar de trabalhar. Eu só acho que devíamos ter menos medo. Medo de morrer, medo de se arriscar, medo de se conhecer. Temos que achar na nossa pilha de deveres, um momento para o ócio. E o mais importante é que seja um ócio criador, que nos faça parar de sermos tão ambiciosos quanto Sísifo. Devemos parar de exigir tanto da vida, e deixar que ela exija de nós a própria vida.

Um comentário:

Lu Tortorella disse...

à propósito... a lua tá muito bonita hoje